Opinião

Major Cícero, 201

Na [magis]+ desta segunda, jornalista Pablo Rodrigues trata sobre o restauro de um dos imóveis mais antigos de Pelotas por iniciativa de Maria Eulalie do Banco de Alimentos

Jerônimo Gonzalez -

A chave de uma das primeiras casas de Pelotas – maltratada pelo passar dos anos, pela enorme umidade (capaz de fazer verter água das paredes) e pela falta de manutenção – chegou às mãos de quem poderá fazê-la remoçar. Mais: poderá torná-la útil à sociedade. Obstinada e abnegada, Maria Eulalie Mello Fernandes, que fez o Banco de Alimentos Madre Tereza de Calcutá surgir praticamente do nada, certamente conseguirá a aprovação e os recursos para o restauro do imóvel na Major Cícero, 201.

Conseguirá, mas não sem ajuda.

E ajudar, neste caso, será fazer o bem duas vezes. De um lado, será contribuir para que parte importantíssima e essencial do patrimônio histórico de Pelotas permaneça à disposição das futuras gerações. De outro, será incentivar a continuidade de um trabalho honesto e sério – algo raro diante da corrupção que se espalha, como praga, por todos os cantos do país – de promoção da dignidade humana. Sim, porque mais de mil famílias em Pelotas só comem melhor, ou só comem algo, por causa da existência dos voluntários que tocam o Banco, arrecadam e distribuem, de graça, 15 toneladas de alimentos por mês.
Distribuem, religiosamente, a esperança.

É do fim de muitas fomes que estamos falando. Quem recebe, recebe bem mais do que o alimento. Garante, para si, a certeza de que a vida não é somente esta sucessão de tristezas, de muitos abandonos. Percebe que, de alguma misteriosa maneira, a orfandade pode não ter a última palavra. Exagero? Basta acompanhar uma, apenas uma, distribuição de alimentos para ver que não há exagero. Aliás, precisa-se, sempre, de mais gente disposta a esse trabalho. Precisa-se, ainda, de muitas mãos.

E de muitos abraços, amorosamente.

Porque não há possibilidade de que algo frutifique sem amor. À casa da Major Cícero, 201, estão destinados quatro dos cinco frutos do Madre Tereza de Calcutá: os bancos de remédios, de roupas, de leite e de empregos. O imóvel, hoje um tanto sujo e miserável, será limpo e restaurado. Com ele, e nele, outras tantas misérias serão acolhidas e restauradas, ainda que lentamente, ainda que em uma pequena parte.

E uma pequena parte, sim, já pode ser muito.

É possível que a partir desta casa, na Marcílio, 201, a cidade tenha nascido. Que a cidade, agora, saiba fazê-la renascer. Não se arrependerá. Motivos não faltam. Será casa de portas sempre abertas a quem mais precisa. Um refúgio, em meio aos desencantos dos dias. Um sino, a lembrar que a vida só tem sentido quando posta a serviço do outro.

Ajudemo-nos, pois.

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